5.18.2008

Mara

De que vale, Mara, o azul cinzento que te cobre os olhos, se não vês?
Passo ao alcance de um trejeito e confundes-me com o resto do mundo, Tanto dá…
E nem a súplica que te deixo alcança o teu perdão; nem o sorriso que desenho atinge o teu reparo. Nem nada nem ninguém me consente ousar uma espera; um ténue enlevo que fosse.
Desde há dias que não te sonho, mesmo nas noites geladas em que me recolho cedo. Levanto-me a meio da aurora sem te lembrar. E fico triste.
Ainda há meses acordava contigo numa memória de pétalas e cheiros.
Sabes que o teu aroma tem o mesmo som do olhar que me escondes?
Sabes a que cheiram os teus lábios, a que sabem os teus olhos?
O azul, se é cinzento, sabe-me igual à cor da chuva, quando cai triste em folhas de Outubro. Se o Sol te rasga, Mara, já os olhos me cheiram ao redondo dos malmequeres, num meio-dia de Maio.
O que me dói – mais de manhã, quando a falta de lembrança me não deixa esquecer-te – é não poder cantar-te o que o silêncio me revela, entoar-te um hino com a fé de um surdo, ser-te Mozart sem pintar uma nota.