7.29.2009

Publicidade a custo zero

Inflama o horizonte

7.27.2009

mais a sério

selo-te uma carta em tons de pérola e ponho lá dentro um ramo de corações irrequietos. assim que abrires obrigam-te a rir e mais facilmente dirás que sim.

voltando aos tempos

falávamos no cochicho das janelas, entre os alpendres da vigilância e prometíamos futuros o tempo todo. nem a chuva nos arreda da comunicação, como os ossos hoje bem sabem.

cibertempos

queria mandar-te uma mensagem nas ciberondas. mas dizem que isso é só para os primeiros. tempos estes...
chocolate à maneira de telhado (ou vice-versa)

7.26.2009

estrela do urbanismo cuidadoso (Açores, 2009)

7.25.2009

infância

corríamos pelos campos, até conseguirmos enfeitar um folha de alface com o negro de um grilo. as horas era o sol que as dava, calmamente. os joelhos competiam nos desenhos do mercurocromo.
Astória, grande história

7.23.2009

um azar nunca chega sozinho

a chave era da outra semana. confirmou-se depois de do chefe ter ido àquela parte. ele respondeu à letra.

certeza

um dia, era uma segunda-feita tão cinzenta como as anteriores, o signo informou que jorraria dinheiro, ainda que com ligeiro prejuízo para o amor. tínhamos o bastante. corremos a ver a chave e, um a um, os números ditavam riqueza. dormimos como santos, até à hora do telefone gritar do emprego.

horóscopo

às vezes era segunda-feira e corríamos atrás de uma crença que nos resolvesse a semana. o jornal de ontem, deixado a meio na mesa da cozinha era o redentor dos distraídos. apressávamos a leitura do horóscopo, insuflados da esperança de haver muita sorte ao jogo. o totoloto estava por corrigir e talvez pudéssemos adormecer o dia todo. ricos.

naqueles tempos

aos domingos o sol escusava-se com outros afazeres, e tardava a chegada. deixávamos que a cama servisse de banquete, e esperávamos tardias cócegas nas persianas. nem a hora da missa, na televisão a duas cores, nos desatordoava dos sonhos. braços enfeitados nos outros e um sorriso que, de propósito, esquecia a semana vindoira.

7.21.2009

ligeiramente corada, só por não nos ter querido deixar lá

7.19.2009


7.18.2009

E é o que é...

O amor é um fogo-fátuo
que se encanta no engano da luz,
e propõe entendimentos inábeis
só pelo preliminar da proposta;
tal como na queda
das pétalas,
ou dos graves,
u
m
a
a
u
m
a
consomem-se as intenções
antes do apego
e nenhum caule conquista
o eterno sabor dos dias.

Vazios...

Uma casa vazia espera o meu regresso d'armas,
trago os despojos com que reivindiquei a vida,
e a recordação eterna da solidão
acompanha os meus passos cansados.
Se ainda me abrisses a porta,
se deixasses solto o trinco de então,
abraçaria as nuvens mais distantes
(nos instantes)
que precedem o beijo da chegada...

7.13.2009

VI.

mas viveu um dia. mesmo sem acordar. e quem lhe dera voltar a ser feliz assim.

V.

não era domingo, era uma quarta-feira qualquer, dessa repetidas e chatas. não era altura de faltar ao dever e disseram-lhe que nunca mais faltaria.

IV.

agora, tem a certeza que nunca o deleite foi tão físico, tão extasiante. percorrendo todas as veias até àqueles vinte e um gramas que tratam por alma.

III.

dormiu e sonhou que dormia. sonhou que dormia e sonhou, e dormia.

II.

sonhou a noite inteira - assim o pensa. pela manhã terá continuado a sonhar; agradado por isso mesmo, regalado por um domingo melancólico, que o abraçava, sereno e belo, sobre o lençol que bastava a maio.

I.

qualquer coisa, naquele dia, lhe fez confundir a ordem; qualquer coisa lhe desabou o ritmo que, há mais de três décadas, caminhava os seus passos.

5.

sempre julgou obsoletos os apontamentos de auto-ajuda.

4.

achava que todos temos um condão de destino. e os soluços com que cuidamos decidir a vida são a ilusão das gotas.

3.

passeava o sena, água a água, a imaginar a ordem superior que haveria de decidir, de entre todas, as gotas que se afogariam nas margens e as que cantariam a vitória do mar.

2.

era um homem de setembro, nesse hemisfério norte que acolhia paris.

1.

era o tempo morno o que melhor lhe compreendia os ossos. nem os dissabores do estio nem, ainda menos, as rachas tiritantes do bafo nevado.

cimento de negro e talco


contra a luz (de todo ou por excesso)

cimento de negro e talco


contra a luz
intermitências líquidas

7.12.2009

Ignorância

não sei atravessar sozinho o rio
não sei abarcar um novo desafio
não sei gritar um poema de voz
quando os dois juntos somos sós

não sei do teu olhar a cor
perdi da memória o valor

só sei ser triste ver escuro a ausência
e não ter versos nem arte a tal ciência
(9.05.2009)

Querendo crer

Deixei de crer no assobio dos búzios,
os que antes me ditavam o aconchego,
enrolados na ternura andaluz
de uns olhos da cor do medo.
Perdi a fortuna no débito da espera
e os cabelos brancos
pintaram-me o coração de passado.
Era falsa a história
- é o que digo aos búzios (agora);
mas choro mais
por ter de lhes confessar.
fora o meu ouvido sedento
que a aldrabou.
(25.05.2009)

7.11.2009

os homens trouxeram escadas de diamantes
e soergueram aos céus os propósitos da vida
que os medos era pavor em cada despedida,
receio da morte ser pior que do nascer o antes

7.05.2009

De manhã, dez mil anos depois

De manhã,
saíamos antes das ervas bocejarem o orvalho
e percorríamos o caminho intransponível
do nosso olhar cruzado.

O amor é, o amor é...
- dizias que ouvias as papoilas
e eu teimava todas as hipóteses
que se podem pendurar no sim e não dos málmequeres.

O azul do meio-dia
ria-se dos nossos pés cansados.
E nós riamos do riso do azul.

Não dávamos conta que já era outro dia,
uma outra era,
um tempo passado
que voltará a escutar-nos
daqui a dez mil anos.
(27.04.2009)

Fios...

poderia ter escrito o que
nem sei de ti,
apenas autorizando as veias
a arrastar-se no sangue emprestado
à morte
suspensa entre o primeiro e o teu último choro.

frutos da ausência,
às vezes somos espaços cruzados
nas almas de espanto;
sacramentos de manhãs nascituras,
eterno fio de desejo
que nunca rompe,
nem nunca enovelará.
(27.04.2009)

Tempo...

olho o espelho e pergunto-me
se sou eu o embalado
naqueles rebordos oxidados da vida.
uma ruga compete
com um lenho do reflexo
e o nariz retorce-se
num movimento cómico.
há trinta anos
o espelho dizia loucuras de rapaz
e brilhava em
cada sábado de febre
com a palavra eternidade
a segurar-se dos bagos cristalinos
da água sobrada do banho.
a toalha branca
encolheu uma geração
e viu partir tantos outros, eternos.
o perfume tem um nome mentiroso
como o é toda a revoltada ousadia.
um dia
talvez o espelho sobre
para me contar os traços
mas não sei quais.
(29.04.2009)