10.30.2008

frio

agora, sim. cai um frio que nem parece verdade. as mãos sofrem o castigo de terem ficado por dar. a noite assegura que a solidão só é cortada pela faca do vento. talvez daí a horas o sol espreite só para patentear lembranças. que seja. virá um dia, outra vez.

10.19.2008

respostas

olham nos olhos, mas num movimento perdido e desatento. queriam lançar uma pergunta, dessas que batem com força nas desculpas das gentes. só que é evidente o risco. sabem que pode haver liberdade. com ele, até pode haver respostas.

10.18.2008

sonolência

as musas comungam da mesma sonolência. o corpo alarga-se em mansidão. a mente observa, sem reagir.

prematura

cansam os dias, quando o tempo é teimosamente indefinido. a tarde mistura-se trôpega à manhã anunciadora e a noite aproveita para se apresentar prematura.

10.17.2008

enfados desfeitos

andavam no ar enfados desfeitos, tal como a neve faz em abril de sumaúma. os olhares agradeciam o acto diligente e o ar respirava-se mais inteiro.

10.15.2008

forças

os cabelos ondulavam no vento marítimo e escondiam a espuma que lhe deixava o desejo. caminhava a empurrar as ondas, teimando em medir forças.

sinos

os sinos deduziram oposição ao hábito. os ouvintes, mais tarde, contentaram-se em regular o tempo pelos astros. quando largaram a sua teimosia, os sinos foram desconsiderados e, um a um, apeados de seus tronos. concluiu-se que a utilidade é uma causa nobre.

som de outono

o som do silêncio, naquela tarde envolta num aguaceiro de bruma, latejava um ruído novo e insubmisso. algo de estranho trazia a tiracolo o outono, reticente em ocupar o lugar claro de um verão a tempo inteiro.

10.14.2008

teimavas em fugir, só porque armada em cheia

antes escondera-se em prédios obsoletos e teimava e fugir das vistas. dois guindastes resolveram a fuga: pousa, Lua!

10.12.2008

eternamente

tontarias. tontarias eram as desculpas com que desviavas os olhares trocados, inventando esperas infindas, como se o tempo fosse suficientemente manso para nos recolher eternamente.

10.09.2008

lentidão

caia o dia com uma suavidade ímpar. os relógios soletravam admirações pela lentidão dos avanços e desconcentravam os deveres. os mais modernos vociferavam contra os quartzos, há muito desabituados da monotonia. parecia surgir um tempo novo, que louvava a lentidão.

10.08.2008

horas

seriam para aí umas horas imensas. tinha-me perdido dos ponteiros há mais de quanto tempo. não o ouvira e agora, insolente, o cuco dizia que era melhor renovar os olhos e aceitar a manhã. ela viria, independentemente do meu tardio arrependimento.

sono

o sono desperta-me de coisa nenhuma. afinal, estava cheio de pensamentos soltos e de vagueios dispersos que apenas acompanhavam um temporária posição horizontal.

10.04.2008

telefone

resguardo uns segundos antes que o telefone se renove nos toques. mais tarde, subjugado na certeza, relembro as hipóteses que a imaginação concedera. maravilhoso.
lisboa. cair da tarde (sexta, 3). no local. antes da Implantação

o escuro

o escuro diz coisas que só ele entende. nem sempre fantasmas, mas quase sempre confusas propostas de duvidoso encantamento.

nos olhos

às vezes carregam a neblina nos olhos, quando a manhã surge demasiadamente cedo e a noite foi um tormento de descobertas.

10.02.2008

poeta

ser poeta é. e ainda que não seja, sempre é poeta.