12.31.2008

porque espreitas a medo e não abres as asas do destino? lá ao fundo está todo um mundo que vem agora com o ano novo. voa. não, não é a do diabo a voz que te fala, só de alguém que ganhou inveja por não ter asas.

Além das imagens, sem título nem palavras




a oriente

estamos em convenções apartadas e a tua hora é de um ano que ainda não existe a ocidente. olho-te pela tecnologia e não consigo perceber a distância no teu olhar. se tu estás no futuro e te vejo, em que ponto da história fiquei?

fim de ano

gota a gota, um a um. o calendário prepara-se, toma balanço e saltará. os dias foram no suave caminho da certeza.

12.26.2008


12.25.2008

e não é que - mesmo em plena crise - há luz ao fundo do túnel


lá onde se senta um poeta, Pessoa que dedilha poemas fantásticos
para os poderem deixar a secar ao vento de Lisboa




12.24.2008

12.21.2008


ilusão

se sonho com o mar, não sei se sonho. a lembrança de o olhar tão lentamente, como quem o respira na forma de ver, é a certa causa da ilusão.

antes de tempo

chegados agora, vem o sol rir-se dos dias húmidos. como se fosse possível dar brilho ao carrego de um ano inteiro. como se fosse viável avançar com as promessas do ano novo antes de tempo.
a famosa cabra, escassamente revelada, sem luz extra e o simples auxílio de telemóvel

junto ao mar

misturo tons e ideias até conseguir refazer a luz que na tua ausência o escuro consumiu, perpetuando todo o ano as noites de dezembro. junto ao mar o farol ilude o desânimo e dá-me pirilampos de esperança. vou arriscar banhar no sal a minha espera.

12.19.2008


depende

ouvem-se vivas ao natal, gritadas na desculpa de ser dezembro. quando um homem quiser pode não ser verdade. depende do querer. às vezes, depende do homem.

12.18.2008




12.15.2008

luz distante

a tua luz, corrijo, a luz que o teu olhar fazia tua, era de um tom áspero, só porque os anos nos quase esqueceram. verdadeiramente, são os mesmos os olhos, mas a tua alma reflecte outras vontades, grandezas que encontraste em paragens distantes de mim. deixo ficar. dizem que há sempre um sol. um sol de calor e esperança.

teu sorriso

o teu sorriso é agora uma descoberta. nova. nova como qualquer descoberta. deixas que ele caia nos momentos mais preciosos. deixas que ele seja um ombro nas horas dos instantes perdidos. deixas, e é isso que te faz sublime.

sei

sei que hoje não virás aconchegar o frio que me abafa os pés. sei. perfeitamente. vou ficando dormente da espera. teimo nela sem precisão. o tempo frio carrega estes desejos castigados e, subjugo-me às lembranças que a aurora da manhã desfeiteará.

de corda

há tempos, idos mas próximos, inventei um pássaro de corda. como o outro. à noite, quando o escuro banha os restos da cidade, o animal chilreia melodias. ao ritmo da força que nas tardes mansas lhe carreguei.

dias do dia

há dias estranhos. dias em que o som das nuvens nos aperta a cabeça e pensamos que surgirá uma ideia luminosa, como uma trovoada decadente que deixe tudo à mostra. normalmente acomodamos a vontade ao nada seguinte e o tempo passa. com a suavidade do pássaro, a elegância da gazela. sem nada acrescentar ao futuro.

mas

mas é segunda. e à segunda lembramos os domingos.

aos domingos

aos domingos, o sono ilumina-se numa manhã de esperança. as crianças branqueiam os sorrisos e parecem novos. aos domingos, a mãe corta o pão com a faca do serviço e o pai conta uma história que o jornal deixou cair. aos domingos.

12.12.2008

como os outros

que natal este, que vem sorrateiro e sem aviso, a deixar que a noite caia, que o frio apareça. até o bulício das compras imita na perfeição os anos pretéritos.

olha lá

picho paredes com um nome diferente do teu. recorto as sebes com traços de outra memória. na contradição, apenas queria o teu reparo.

lembro

falece a voz. imita um disfarce de rouquidão e pigarreia uma desculpa. só de te ver. esqueci que os anos não te esqueceram e não me conformo, desculpo-me.

12.10.2008

identidade

hoje acordei num dia de chuva. entre as sobras das vidraças, engalanadas da espuma desfeita que os corpos interiores vaporizam, vi um rosto antigo. o olhar confundia-se com as bátegas coladas no horizonte. dei por mim, sem sonhar, a sonhar. se era chuva, talvez não fosse eu. se era eu, talvez não fosse hoje.

12.09.2008

dias pequenos

acotovela-se o tempo nestes afazeres dispersos que engolem os dias pequenos. admira-se a pressa que só no fim o ano deixe a luz mais escassa e se vanglorie na imensidão do escuro.

12.05.2008

espero-te à chuva, em dezembro

A chuva lavou da língua as palavras mornas
Dezembro é mês frio, monótono e de sornas
É mais difícil cantar-te uma sílaba colorida
A cor do sol une-se com as cores das terras
Perdemos em luz, ganhamos em vida
O nosso truque é um jogo de esperas.

12.02.2008

liberdade

No cigarro último que me emprestas
vou queimar a palavra talvez. Uma
a
uma
- na dor que lhes devolvo -
as letrinhas vão gritar-me
Liberdade.
Restitui-me o fogo um sonho de catraio.
Tinham-se juntado até ao z para me
declararem o impossível.
O teu lume
queimou o fado.

11.29.2008

verdadeiro

talvez por dever de ofício, enviam-nos agora um novembro verdadeiro. o cinzento pode ter cara triste, mas é ele mesmo.

11.27.2008

memória refeita nas folhas tombadas


Ainda tenho uns flocos de saudade
(envoltos nos farrapos de um
coração teimoso)
e cirzo as lembranças
esfiapadas
nos retalhos do sorriso antigo,
o que me faz das memórias
um arco-íris.
É quinta-feira e choveu ouro
nos restos deste verão indiano,
o que te confunde com a terra.
Gosto dos amarelos,
só para não ter de sonhar
os teus cabelos.

11.22.2008



coisa ingrata

há qualquer coisa de ingrato no novembro. se o outono está pleno, com as folhas já devidamente caídas, só se espera a alegria luminosa do mês que vem. fica uma coisa entre, como nas perguntas de neruda.

11.21.2008

Não, não

Não vou dizer-te as palavras
certas. E isso é uma garantia
absoluta.
Os greges competem no meu
sonhado ânimo
de te encontrar a verdade.

11.20.2008

frio tépido

No frio agudo em que
desgosto o fim da tarde
há uma lembrança muito vaga
do teu sorriso antigo.
O calor não é o mesmo, o Verão
desapareceu sem dar notícias, mas
sempre um consolo fugaz
impede os devaneios de gelo.

11.15.2008


11.12.2008

palavra

tinha inventado uma palavra nova e, com um cuidado de criança, levou-a para a cama, deixando-a junto ao peito. durante o escuro da noite sonhou que um dicionário tinha ultrapassado a barreira do sono e, em desculpa de um acordo ortográfico, lhe sacara a preciosa. acordou sobressaltado. estava igual à véspera, mas não lembrava o som celestial do dia anterior.

11.05.2008

cores americanas

as cores do dia perderem as cores. num fundo azul e vermelho ficaram os pingos do verde que sempre espera. num branco que não era puro, num negro que não era escuro, num afastar do cinzento das nuvens. num amarelo vivo, esse que dá vontade de sorrir.

11.01.2008

novembro

e vem um outro mês. como se posse possível distinguir na mansidão dos dias os contornos do calendário. aceita-mo-lo, sinal dos tempos e da mesma idade que é a do dia seguinte.

10.30.2008

frio

agora, sim. cai um frio que nem parece verdade. as mãos sofrem o castigo de terem ficado por dar. a noite assegura que a solidão só é cortada pela faca do vento. talvez daí a horas o sol espreite só para patentear lembranças. que seja. virá um dia, outra vez.

10.19.2008

respostas

olham nos olhos, mas num movimento perdido e desatento. queriam lançar uma pergunta, dessas que batem com força nas desculpas das gentes. só que é evidente o risco. sabem que pode haver liberdade. com ele, até pode haver respostas.

10.18.2008

sonolência

as musas comungam da mesma sonolência. o corpo alarga-se em mansidão. a mente observa, sem reagir.

prematura

cansam os dias, quando o tempo é teimosamente indefinido. a tarde mistura-se trôpega à manhã anunciadora e a noite aproveita para se apresentar prematura.

10.17.2008

enfados desfeitos

andavam no ar enfados desfeitos, tal como a neve faz em abril de sumaúma. os olhares agradeciam o acto diligente e o ar respirava-se mais inteiro.

10.15.2008

forças

os cabelos ondulavam no vento marítimo e escondiam a espuma que lhe deixava o desejo. caminhava a empurrar as ondas, teimando em medir forças.

sinos

os sinos deduziram oposição ao hábito. os ouvintes, mais tarde, contentaram-se em regular o tempo pelos astros. quando largaram a sua teimosia, os sinos foram desconsiderados e, um a um, apeados de seus tronos. concluiu-se que a utilidade é uma causa nobre.

som de outono

o som do silêncio, naquela tarde envolta num aguaceiro de bruma, latejava um ruído novo e insubmisso. algo de estranho trazia a tiracolo o outono, reticente em ocupar o lugar claro de um verão a tempo inteiro.

10.14.2008

teimavas em fugir, só porque armada em cheia

antes escondera-se em prédios obsoletos e teimava e fugir das vistas. dois guindastes resolveram a fuga: pousa, Lua!

10.12.2008

eternamente

tontarias. tontarias eram as desculpas com que desviavas os olhares trocados, inventando esperas infindas, como se o tempo fosse suficientemente manso para nos recolher eternamente.

10.09.2008

lentidão

caia o dia com uma suavidade ímpar. os relógios soletravam admirações pela lentidão dos avanços e desconcentravam os deveres. os mais modernos vociferavam contra os quartzos, há muito desabituados da monotonia. parecia surgir um tempo novo, que louvava a lentidão.

10.08.2008

horas

seriam para aí umas horas imensas. tinha-me perdido dos ponteiros há mais de quanto tempo. não o ouvira e agora, insolente, o cuco dizia que era melhor renovar os olhos e aceitar a manhã. ela viria, independentemente do meu tardio arrependimento.

sono

o sono desperta-me de coisa nenhuma. afinal, estava cheio de pensamentos soltos e de vagueios dispersos que apenas acompanhavam um temporária posição horizontal.

10.04.2008

telefone

resguardo uns segundos antes que o telefone se renove nos toques. mais tarde, subjugado na certeza, relembro as hipóteses que a imaginação concedera. maravilhoso.
lisboa. cair da tarde (sexta, 3). no local. antes da Implantação

o escuro

o escuro diz coisas que só ele entende. nem sempre fantasmas, mas quase sempre confusas propostas de duvidoso encantamento.

nos olhos

às vezes carregam a neblina nos olhos, quando a manhã surge demasiadamente cedo e a noite foi um tormento de descobertas.

10.02.2008

poeta

ser poeta é. e ainda que não seja, sempre é poeta.

9.26.2008

castanho

as raparigas pintam de castanho as saias do outono. imitam as vozes das árvores, cansadas do garrido do sol.

9.23.2008

teimosas folhas

e pingam os dias, gota a gota, hora a hora. o outono espreita e depois chega. as folhas insistem na sua força. revoltam-se contra a certeza das estações. teimam em morrer de pé.

9.21.2008

a luz ficou a ocidente

Ao primeiro disparo, sem a grandeza imperial, a benção dos deuses. Luz como só tu tens, Lisboa

9.12.2008

e a luz?...

Madrid encanta, cheia de ares de império e belezas aprumadas. Ai se os deuses te tivessem deixado a luz de Lisboa, o Tejo, o mar da palha...

9.10.2008

Findo o dia (9.09.2008) é Lisboa que se despede da luz emprestada. Amanhã voltará, no Alfa ou no Intercidades, de Coimbra ou de outro recanto que empreste o olhar.
Coimbra (9.09.2008) o dia nasce com a intensidade do hábito. A luz espera para servir de companhia, companheira das horas e da viagem.

9.08.2008

contente

mas que setembro. setembro que, se te lembro, vinhas diferente. anos quase assim, mas quase sempre contente.

9.06.2008


pingos

nem sempre a chuva é tão teimosa assim. leva consigo uns reflexos pintados nos pingos que não deixam de ser uma réstia do sol. e este, por isso, acaba por vir correndo.


Viseu, 5 de Setembro.

A chuva em visita sem convite


Coimbra, mesmo sem parecer.

Um fim de tarde nas paredes ignorantes da transparência.

9.03.2008

tarde a cair

cai a tarde. cai em moldes que parecem lâminas sobrepostas, fechando o dia com paciência, combinadas com a negrura que se aproxima.

9.02.2008

calendário

é o que é. e ainda é verão. as coisas são para se cumprir com rigor, esperando serenamente o tempo próprio.

sobras

sobram uns calores de tempo. apenas como se o verão fosse teimoso, incapaz de aceitar as mudanças dos meses, levando a peito o rigor metodológico das estações.

8.31.2008

setembro

vem aí o setembro, em passo de corrida. nos ombros a sacola do a e i o u. corre agosto, se queres aprender as falas.

sem letras

sem letras poderíamos olhar cem vezes a tua fala de gestos. talvez no olhar se visse um texto bastante.

bailados

na esquina da luz as nuvens espreitam oportunidades, antes que a noite abafe os seus andamentos bailados.

perceber

sonhar acordado. não consigo acordar e perceber esse sonho.

fora fevereiro

se fora fevereiro ainda daria para uma distracção que evitasse a saudade da passagem. o tempo quente também não ajuda.

agosto

assim a caírem gota a gota, como se cada uma fosse um dia inteiro, parece custar mais quando se chega o fim. e trinta e um é sempre o máximo.

noite

renova-se a noite em cada escuro, sofrendo mansamente a liberdade da luz.

8.27.2008

trabalho

encontrei o trabalho no mesmo sítio. tinha, ele mesmo, a mesma vontade. bem dizem que ainda há quem nos espere.

8.26.2008

cabelo

e tu descias a escada de granito, onde a ramada deixava sombras fugidias. era verão e ondulavas o cabelo contra o vento morno e escasso.

peito

tenho saudades de um tempo apertado contra o peito, quando os segredos se diziam de ouvido aberto, quase sem mudar a voz.

8.25.2008

Naquela casa, já toda descaída das lembraças passadas...
Naquela prais só nossa, onde o vento temia a visita...

tarde caída

quando a tarde caia em tons definitivos, mesmo que apenas para esse dia ido, sossegava-te o espírito e voltavas a ser a mesma. por uma noite.

tormentos

dizias que andavas sem jeito, naquela tarde de sombras. as nuvens teimavam em brincadeiras com o astro maior e, quando se desviavam, vinha um raio quente que te atormentava.

8.24.2008

8.20.2008

perigo claro, mesmo que azul


seixos

houve dias em que acordei com o suave rugido do mar a rolar os seixos na maré. o despertou zangou-se de inutilidade, mas não tem mal.

memória

perdera anos sem te ver o olhar e recupero agora essa expressão sentida. o tempo intermédio, num instante, apagou-se da memória.





água salgada

a água, salpicando de sal o gosto da tarde, caminhava suavemente por sobre os pés cansados. preparava a jornada seguinte.


maré vasa

houve uma outra altura em que se deixou dormir com a maré vasa e quando acordou, um dia depois a maré estava igual. sonhara que o sol lhe secou a camisa branca.

sinais

consta que caminhava tão suavemente na areia fina da praia que tornava impossível o reconhecimento das marcas. um dia, nervoso por um assunto mal encaminhado, deixou cair o pé em sobressalto. o mar, que o via passar por ali horas sem fio, correu a apagar os sinais.

8.19.2008

Tempo


parecida

sei lá que será essa coisa da saudade. sinto só qualquer coisa que, sei lá, é parecida, talvez muito parecida, com ela.

onda

por vezes, em dias estranhos, uma onda sai do ritmo e atemoriza o olhar sereno de quem se quer passar por marinheiro.

maré

o mar descansa como os meus olhos nele descansam. irmanados nessa calma que o sal empresta à água, suplicamos que a maré não venha desconforme.

Cores do Mar





O Sol, mesmo na hora descaída, atacou de modo ignorado
e deixou na areia escura e pisada a tua silhueta, como um rodado.
Bem te avisei: na próxima dispara com diferente cuidado.

dias de verão

dizem que no verão os dias são maiores e acreditamos nas coisas que nos dizem. mas o que é certo é tudo quanto nos diz o relógio: vinte e quatro horas, nada a mais, nada a menos.

só pelo nome

Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus
Caio Júlio César Octaviano Augusto
faleceu em 19 de Agosto de 14 DC

8.18.2008

São Martinho do Porto, 17 de Agosto de 2008

olímpico

corria atrás do prejuízo. como se o ideal fosse um pedaço de queijo e ela um rato amestrado.

livros

páginas perdidas em demanda de uns dizeres vagamente lembrados. os livros fazem-nos diabruras. jogam às escondidas como no tempo da casinha na árvore.

8.17.2008

S. Pedro de Muel, 17 de Agosto de 2008

foz

quem chega ao fim vê que não existe. vê que o doce se mistura ao salgado e glorifica a água.

rio

tenho saudades das águas que lutam contra o mar. das águas doces que acompanham as margens, que as revoltam.