8.31.2008

setembro

vem aí o setembro, em passo de corrida. nos ombros a sacola do a e i o u. corre agosto, se queres aprender as falas.

sem letras

sem letras poderíamos olhar cem vezes a tua fala de gestos. talvez no olhar se visse um texto bastante.

bailados

na esquina da luz as nuvens espreitam oportunidades, antes que a noite abafe os seus andamentos bailados.

perceber

sonhar acordado. não consigo acordar e perceber esse sonho.

fora fevereiro

se fora fevereiro ainda daria para uma distracção que evitasse a saudade da passagem. o tempo quente também não ajuda.

agosto

assim a caírem gota a gota, como se cada uma fosse um dia inteiro, parece custar mais quando se chega o fim. e trinta e um é sempre o máximo.

noite

renova-se a noite em cada escuro, sofrendo mansamente a liberdade da luz.

8.27.2008

trabalho

encontrei o trabalho no mesmo sítio. tinha, ele mesmo, a mesma vontade. bem dizem que ainda há quem nos espere.

8.26.2008

cabelo

e tu descias a escada de granito, onde a ramada deixava sombras fugidias. era verão e ondulavas o cabelo contra o vento morno e escasso.

peito

tenho saudades de um tempo apertado contra o peito, quando os segredos se diziam de ouvido aberto, quase sem mudar a voz.

8.25.2008

Naquela casa, já toda descaída das lembraças passadas...
Naquela prais só nossa, onde o vento temia a visita...

tarde caída

quando a tarde caia em tons definitivos, mesmo que apenas para esse dia ido, sossegava-te o espírito e voltavas a ser a mesma. por uma noite.

tormentos

dizias que andavas sem jeito, naquela tarde de sombras. as nuvens teimavam em brincadeiras com o astro maior e, quando se desviavam, vinha um raio quente que te atormentava.

8.24.2008

8.20.2008

perigo claro, mesmo que azul


seixos

houve dias em que acordei com o suave rugido do mar a rolar os seixos na maré. o despertou zangou-se de inutilidade, mas não tem mal.

memória

perdera anos sem te ver o olhar e recupero agora essa expressão sentida. o tempo intermédio, num instante, apagou-se da memória.





água salgada

a água, salpicando de sal o gosto da tarde, caminhava suavemente por sobre os pés cansados. preparava a jornada seguinte.


maré vasa

houve uma outra altura em que se deixou dormir com a maré vasa e quando acordou, um dia depois a maré estava igual. sonhara que o sol lhe secou a camisa branca.

sinais

consta que caminhava tão suavemente na areia fina da praia que tornava impossível o reconhecimento das marcas. um dia, nervoso por um assunto mal encaminhado, deixou cair o pé em sobressalto. o mar, que o via passar por ali horas sem fio, correu a apagar os sinais.

8.19.2008

Tempo


parecida

sei lá que será essa coisa da saudade. sinto só qualquer coisa que, sei lá, é parecida, talvez muito parecida, com ela.

onda

por vezes, em dias estranhos, uma onda sai do ritmo e atemoriza o olhar sereno de quem se quer passar por marinheiro.

maré

o mar descansa como os meus olhos nele descansam. irmanados nessa calma que o sal empresta à água, suplicamos que a maré não venha desconforme.

Cores do Mar





O Sol, mesmo na hora descaída, atacou de modo ignorado
e deixou na areia escura e pisada a tua silhueta, como um rodado.
Bem te avisei: na próxima dispara com diferente cuidado.

dias de verão

dizem que no verão os dias são maiores e acreditamos nas coisas que nos dizem. mas o que é certo é tudo quanto nos diz o relógio: vinte e quatro horas, nada a mais, nada a menos.

só pelo nome

Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus
Caio Júlio César Octaviano Augusto
faleceu em 19 de Agosto de 14 DC

8.18.2008

São Martinho do Porto, 17 de Agosto de 2008

olímpico

corria atrás do prejuízo. como se o ideal fosse um pedaço de queijo e ela um rato amestrado.

livros

páginas perdidas em demanda de uns dizeres vagamente lembrados. os livros fazem-nos diabruras. jogam às escondidas como no tempo da casinha na árvore.

8.17.2008

S. Pedro de Muel, 17 de Agosto de 2008

foz

quem chega ao fim vê que não existe. vê que o doce se mistura ao salgado e glorifica a água.

rio

tenho saudades das águas que lutam contra o mar. das águas doces que acompanham as margens, que as revoltam.



decência

assim tanto virar de página cansa. inventamos traquinices com o andar da idade. salvaguarda da decência cerebral.

câmara de ar

como um calendário da michelin, sempre na esperança gaiata de espreitar o pneu seguinte. vistoso. de câmara à mostra.

calendário

viram-se os dias, um a um, outro a outro, como se o tempo fosse umas páginas de calendário que penduramos nas marquises da vida.


aeroporto da Ilha do Porto Santo

desenhos

vale a pena espreitar fundo, por entre os buracos disformes das nuvens. do outro lado podem desenhar figuras diferentes, mais tímidas.

chuva futura

a chuva veio apenas dar conta da sua identidade. uns pingos inofensivos deixaram no alcatrão da estradas memória do inverno futuro.

memórias

cai a noite de lembranças incontáveis. perdem-se umas, outras se ganham. depois, perdendo-se a conta, algumas se contam aos amigos.

8.16.2008

saudades pintadas na rocha





Ar rarefeito

Quais são os predicados do teu sujeito,
Qual é - afinal - o ar rarefeito
Com que me sufocas todo o tempo?
- Eternidade é só este momento!

ideias na terra, deixadas pelo mar




tempo

ora, como é bem de dizer-se, quem manda é o tempo. que mande.

frio

só por se dizer que o setembro tem letra inicial de saudade. só por isso, veio uma chuva a tremer de frio, pintando o céu do verão.

Por ventura

Posso estar louco, bem se vê...
Mesmo se poemas saltam em bravura.
Ninguém os sente, já ninguém os lê;
Apenas os faço em memória da tua...
Formosura?
Descompostura?
Não!
Só assim mesmo por ventura!

lembranças escritas na rocha



Porto Santo


praia do Porto Santo


areia imensa


gatos

os gatos percorrem a paisagem em passos autoritários e deixam ao nosso encanto a imaginação da passagem.

meses

se a chuva fosse enfeitar um agosto quente
se o sol pintasse um janeiro teimoso
se os meses vierem revoltados?

8.15.2008

anda cá, bichano...


atenta e cuidadosa


Porto Santo


sempre muito atento


maternal brincadeira


flores

as flores enfeitavam os passos, perdidos de descoberta. seguíamos o odor milagroso dos caminhos novos.

horizonte

o horizonte picava o olhar com relevos de magia. à noite, a costureira do infinito deixava uns pontos de cetim a indicar o caminho das estrelas.


saudade

a saudade é mesmo isso: querer.

meio de agosto

o sol abafa o meio do mês. das saudades dele, lembramos agora um setembro próximo. nunca se quer o que se tem.

8.08.2008