5.31.2010

devagar se canta nas manhãs turvas

não cantes tão depressa
os acórdes onde o vento
nos enrola as tardes,
que a mansidão é ingrata
mas perene
e só as nuvens se revoltam
com as boleias do sopro

mudam a forma,
riem e choram...
e tu querias
que os dias
(cacófonias...)
tivessem um som quebrado
de silêncios nunca satisfeitos

a melancolia é tão risonha
como a aurora das manhãs turvas,
aurora é,
azul, cinzenta
como que seja
afirma-se no lia longo
como premonição.

(28.052010)

Q(ei!)ma 2000 e 10


falsidades

agora que caiu a neve no calor da noite
deixo que os olhos fechem o som do tempo
e revolto-me com a escuta dos silêncios,
à procura de palavras mortas, de sílabas esconsas
que livrem o medo do seu fim

porque só a desmesura liberta, esse
arrepio de laços que faz da incongruência
um beijo sem lábios, um abraço sem braços,
a inocente verdade de tudo ser falso.

(24.05.2010)

tamanho e infinito

um fio de deus atravessa o som
onde se penduram as promessas
e viram respiração
os actos antes sidos
desejos e esperanças sem espaço.

cada segundo tem agora
o tamanho preciso que percorreu o nada
e o infinito
sem voltar as costas,
sem sentir pena
do tempo futuro, ficado por ocupar.

pé ante braço, coração aberto
peito inteiro sem gestos,
em cada gesto
sombras de um sol por inventar
incêndio copioso
num grito surdo
dum imortal presente.

(25.05.2010)

5.24.2010

VENTO

Agora é vento o meu nome
e não me perguntes nos lugares antigos.
Fui, vestido de tempestade,
para longe do mar,
deixei os seixos arremessados às ondas,
os gritos das gaivotas, a irritação
do sol debruando a areia. Procura-me
no assobio dos moinhos, nas mãos do pão,
no silêncio com que as aves
se despedem do dia.