2.26.2009

mas que...

e aquela cabra sempre teimou,
escondidos nos umbrais dos sonhos,
gritar à nossa abafada melancolia
as sirenes gastas dos regulamentos

2.22.2009

nos ramos de teus abraços

"a cegueira é andar por uma terra que só eu conheço"
podendo enlera-me nos ramos
dos teus abraços,
que os repiso de memória. o
teu rosto continua a ser
o rio onde banho
as mãos e as saudades,
onde refresco da canícula
que a tua ausência me deserta.
barro é um ente solidário,
quando pergunto o teu nome,
e, se mais não pode,
deixa que reformule
os teus lábios mansos
e que o resto do teu corpo
acompanhe
os contornos do mundo.

(19.02)
A frase inicial é de Rui Nunes,
Que sinos dobram por aqueles que morrem como gado

revolução

os anos passavam um a um, teimosos como se o calendário fosse um ditador insensível. precisava-se uma revolução temerária.

indesejo

vínhamos num ardente desejo de reencontrar o deixado, mas a noite caiu apressada e o escuro arrefeceu a vontade.

2.21.2009

sê, ao menos

Sê, ao menos, hostil,
que a brandura inquieta.
E não me permito continuar
devassado na tua rectitude.
Grita -
só para mim -
algum desassombro
que me derrube por inteiro;
não quero ficar
a meio-caminho do fim.

(19.02)

deixa em branco

deixa em branco a cópia
dos compromissos que te lavrei.
também eu suplico
uma transparência
que me recupere o gesto
de abarcar o mundo,
como nos pretéritos das searas,
contra os espantalhos
que nos corrompem
promessas do para-sempre.

(19.02)

2.14.2009

dia dos

a correr atrás das gaivotas, desenfreados, esperávamos que a lua viesse em socorro de companhia. o mar fazia ondas de aplauso e sorrisos de espuma. incentivos a um beijo demorado.

2.08.2009

inverno

ainda respiro, depois de todas estas horas mortas, faúlhas do teu perfume. podia ser a saudade, mas não sei se é apenas este rigoroso inverno, apertando-nos em humidade.

2.06.2009

entre vista

sei que nenhuma palavra acabou por ser dita. fomos olhando um no outro e nada havia a dizer entre o que víamos.

2.03.2009

mentiras de inverno

caia um sol a pique e toda a cidade se abrasava no bafo tórrido que se esplanava ao longo dos cafés. homens e mulheres sacudiam-se, e repudiavam os gelados constantes que os mais pequenos exigiam. um calor assim parecia mais que desusado.

2.02.2009

resta uma hipótese

tombo a cabeça de encontro
ao algodão perfumado
onde tinhas deixado
os traços loiros do teu cabelo.
procuro o odor do mar
(porque te sinto salgada
na escuridão das noites).
virás - ou não - recuperar
os teus sinais.
e basta-me, por tanto,
essa hipótese luminosa,
capaz de vencer o dia
em propósitos de aconchegar.