8.31.2011
"a cegueira é andar por uma terra
que só eu conheço"
podendo enlear-me nos ramos
dos teus abraços, os que
repiso na memória. o teu rosto
continua a ser o rio
onde banho as mãos e as saudades,
onde refresco da canícula
que tua ausência deserta. barro
é um ente solidário
quando pergunto o teu nome, e
se mais não pode,
deixa que reformule os teus lábios mansos
e que todo o resto do teu corpo
acompanhe os contornos do mundo.
2009, a partir de um verso de Rui Nunes
(in, que sinos dobram por aqueles que morrem como gado)
6.28.2011
6.22.2011
aniversário
A primeira vez que escrevi o nome
foi com letras de água
no regato onde bebia o tanque
da quinta do avô.
E já decorara letras de escola
quando o renovei
na areia das marés vazas.
Agora gravo-o por dentro
dos muros de granito
onde me cerco nos dias saudosos.
E o que perdura são os gestos
de areia e água, que a memória
é o cimento que enrama as pétalas nas lágrimas.
It's so hard recycle a joyous childhood.
Em dias como este, que acordavam o verão
tão cedo como a luz
subíamos à Serra, a levantar, passo a passo,
a película de neblina
como um cortinado japonês
(e houvesse smartphones, tal qual
como o ecran que se desvenda, o
mesmo dedo que fazia de tinta, a
percorrer a água).
Não há acrescentos que acrescentem:
era só uma lembrança,
como uma carta.
(21.06.2011)
3.24.2011
Desligo do teu rosto as mãos e são de neve
alvas de pecado, corpo que não serve
salvo no dever de te querer infinita
entre o tempo curto duma sina dita;
Regresso ao teu olhar e é só verão
aí onde queimaste a mesma mão
que desenhou um falso nome na tua.
Neve não é brancura nem ternura
apenas o bater dum coração.
2.11.2011
am, or not
é uma frase feita,
sempre por gastar. um
discurso intenso
no palavreado imenso
de uma palavra só. só
o amor,
como destino ou castigo.
essa infinita liberdade
que nos prende.
(19.05.2009)
2.10.2011
porquê?
diluiram-se os ombros no peso dos dias e agora
caminho em busca do horizonte, sem que veja
mais que passos e adereços de poeira, onde
os homens depositam cansaços de tardes pardas;
nesta condição de escaravelho, lembro-me de kafka
e decido não lavrar mais palavras (como o escrivão)
deixar-me sonolentar o dia todo
- sem esperas, sem propósitos
enquanto o mundo se discute,
curvado, tal como eu,
mas pensando saber porquê
1.29.2011
viagens
Olhava-a com um objectiva 200
e via nos lábios, rotos de tão próximos
todos os sulcos que imagino percorrer
Num relance voltei a um grande angular
e vi que estávamos sozinhos
no frio, na estação, na espera
do intercidades
que haveria de solavancar
até ao fim do Tejo;
e então, descuidado,
continuei a sonhar
com um vermelho papoila
que sombreava cuidadosamente
com estes outros lábios
das palavras incompletas
sós
neste jogo de máquina fotográfica,
à espera do intercidades
e do fim do frio.
viagem
Deixei o banco onde lera o verso que carrego agora
e enquanto as casas correm à janela
(uma boina de soldado a corar numa varanda de azulejo,
viste?)
e o comboio castiga as vértebras
pergunto se a madeira gasta ouviu o meu segredo;
que guardam as coisas das nossas conversas?
- e como se diluem, para se libertarem
das confissões inquietas,
dos sonhos desfeitos antes do acto?
1.24.2011
1.10.2011
regresso...
uma casa oca espera o meu regresso das armas;
carrego os despojos com que reivindiquei a vida
e a eterna recordação da solidão acompanha
estes passos cansados. se ainda
me abrisses a porta, se
deixasses solto o trinco de então,
abraçaria as nuvens mais distantes
nos instantes que precedessem
o beijo da chegada...
(5/2009)
indo pela sombra
chegava na sombra,
onde escondia a tua voz.
e abraçava os novelos
de cabelo molhado
entre o pescoço marcado de beijos
e cinco dedos à espera da entrega
(Lx., 6/2010)
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