1.30.2009

contradições

nem valia a pena correr, desafio perdido sem esforço. o tempo vinha em sentido contrário e por atalhos que falseavam a idade. valia mais sentar-se, esperando que a juventude deixasse a ousadia da concorrência. mas, como os outros, acabou por se galvanizar, iluminado que o risco da liberdade suplantava o sossego da espera.

1.27.2009

noite

o risco do escuro é ver. porque foge à normalidade. e consta que assim mesmo são calculados os riscos.

1.25.2009

ritmo

cai o domingo com a teimosia do costume. assim nasceu, escassas horas pretéritas, com teimosia igual. dizem que voltará daqui a uma semana. é de crer que sim, louvando-nos em assim ter sido.

Vinde

Vinde. Na correria do desejo
e só para vos saberdes
irmã do infinito.
Rasgo as portas
que vos fechavam
e penduro-me
nos umbrais cerimoniosos.
E vos recebo.

Tisnado em sal de castigo,
crestado no mar,
incerto de merecer
a dádiva que é rever
os olhos com que partistes
há eras,
quando os meus choravam
a adivinhação do futuro.

1.23.2009

leituras

li que há ainda versos por escrever. era um poema que se apresentava cheio de humildade. digo assim porque pensava que um poema era o mundo todo. mas fiquei a saber que há muitos mundos neste mundo todo. gostei de ler.

1.22.2009

grades desfeitas

entre as grades que a teimosia da chuva ajuda a fortificar tento soletrar a palavra certa. a rouquidão do inverno só uma me consente. nem a dizendo, vejo que as nuvens se dissipam num movimento carinhoso e, ao longe, desenham em flocos o teu nome. era o que eu queria dizer.

1.19.2009

avanço

como. porquê. impertinências que se agarram ao caminho como lama. mas, como um senhor dizia, sem atrito permaneceríamos parados.
ainda vale a pena dar o braço ao mar e sonhar que os pés aguentam acompanhar-te até ao infinito. sem protestos, sem um grito.só com o gosto do teu olhar.

1.18.2009

o estranho caso

pensei na ideia de ir enovecendo. claro que não há a palavra. as palavras têm o seu modo de utilidade. contaste-me o filme, história num conto antigo de um escritor maldito. fiquei ciente do pânico. não é o tempo que recua, mas a vida. e isso é bom, mas tem prazo certo. acho que a incerteza é a nossa grande conquista. hoje deu-me para isto.

1.17.2009

quem esconde a luz e quem a dá. quem recebe ou quem reparte. quem a simula ou dissimula. quem a rejeita ou a goza. luz e quem.

1.16.2009

cem pássaros a executar liberdade sem comentários
sigo. sigo-te. mesmo que a cada passo canse o passo. temo que a tua euforia te despenhe, ainda que a saber que isso é um custo da liberdade. mas então voa, tens asas bastantes a essa aventura.

1.15.2009

letras

uma a uma, como quem disseca uma hipótese renovada, entregas as letras que formarão o enlevo. de a a r, juntas mo como outras e deixas ficar. para que eu repare, distraindo-me da distracção que quase te esquecia.

certezas

as palavras certas deixaram de ser uma garantia de acerto. ficam as ideias do que podia ser dito. velem o futuro. e isso acomoda-nos.

conflito

espero que o desacordo seja só sobre o excesso do gosto. gosto de sentir a desmesura do encanto.

1.14.2009

nos intervalos da dureza puída da pedra, como um cimento que se sente, transparece o talco da espuma alva e persistente.
não sei se é teu, lisboa, o amarelo que o sol te empresta e te alegra. talvez te pertença a sombra que permitirá acender as luzes na noite. sol e sombra, enfim, sempre são os teus mesmos desejos.
o verde é a saudade do tempo em que se pulavam as ramagens e se ultrapassavam as prisões fingidas de muros, antes de se enfeitarem os joelhos traquinas com as pintas vermelhas do mercúrio.
escondes-te aí, envolto nessa liberdade que o mar te entrega. grande rapaz, um dia brilharão em teus olhos de homem as cores das nuvens e do vento e galgarás o oceano de desejos puros.

aparências

cai um nevoeiro que confunde noite com escuro, e escuro com ausência de luz. um jogo de conceitos irrelevantes que me confunde, e me confunde no jogo de aparências que uso para melhor te imaginar.

1.13.2009

mãos

entalam-se as mãos com a desculpa do frio que percorre o corpo. desculpa vã. apenas demandam sofregamente a palavra.

1.08.2009

2009

quando lhe ligava, dizia-me esperar serenamente o seu momento próprio. foi isto já no ano pretérito, mas parece-me de agora mesmo.

ano novo

não entendo estas contas de agora. estive incontáveis dias à espera. meses e meses sem notícias dele. doze, penso eu, numa espera desmedida. afinal, chegado que é, tudo me parece igual.

1.07.2009


simulante

o sol salpica reflexos nos telhados abatidos de gelo. simula uma primavera inoperante, como se o parecer levasse a melhor à realidade do frio.

veio para ficar

e faz bem teimar. tem o direito dos outros, de todos os que já foram. mais que os que virão.

outro ano

e não é que veio mesmo. atormentado de apelidos e descrença, mas veio. no segundo-instante (não, no segundo instante, que alguém inventou um segundo mais) chegou-se ao tempo presente. sem rodeios. só com os lamentos que lhe ofereceram.