Invento uma insónia nova
para o corpo desabrigado.
Obrigo-me à prova
de alertar a cada trinta minutos.
Puxo o adereço que me aperta o pescoço
e, antes de sufocar, tresmalho
em relâmpagos de vida.
Na partida,
ergo-me e vagueio
quinze minutos
pelo corredor profundo,
antes de espetar a caneta no papel branco
e redigir mais um diálogo
de surdos.
Sei que elas não me compreendem.
Sonham, de quando em vez.
Se acordam,
cuidam-se prenhes de razão.
Ora, ora…
É tempo de esconder as persianas,
de encobrir as gelosias.
Tempo de inventar dúvidas.
Entre mim e eu, será um poema
a separação?
Ou um embuste?
A carga de uma perplexidade
ou um anjo de glória?
Haverá distâncias
na perplexidade que nos toca?
Ou só inventamos pertenças alheias?
O que somos:
Uma castidade de ânsias
ou uma devassidão de promessa pias?
Boa noite, cidade.
Entrego-me à cama sem
Absoluta esperança de dormir como justo.
Reconforto-me na tentativa.
Amanhã, deu lo queira,
O sol recompensará os audazes.
Saborearemos um, sempre diferente,
Brilho igual.
Boa noite, cidade.
e. u. m., Poemas Impublicáveis