5.31.2008

Insónia

Invento uma insónia nova
para o corpo desabrigado.
Obrigo-me à prova
de alertar a cada trinta minutos.

Puxo o adereço que me aperta o pescoço
e, antes de sufocar, tresmalho
em relâmpagos de vida.

Na partida,
ergo-me e vagueio
quinze minutos
pelo corredor profundo,
antes de espetar a caneta no papel branco
e redigir mais um diálogo
de surdos.

Sei que elas não me compreendem.
Sonham, de quando em vez.
Se acordam,
cuidam-se prenhes de razão.

Ora, ora…
É tempo de esconder as persianas,
de encobrir as gelosias.

Tempo de inventar dúvidas.

Entre mim e eu, será um poema
a separação?
Ou um embuste?

A carga de uma perplexidade
ou um anjo de glória?

Haverá distâncias
na perplexidade que nos toca?

Ou só inventamos pertenças alheias?

O que somos:
Uma castidade de ânsias
ou uma devassidão de promessa pias?

Boa noite, cidade.
Entrego-me à cama sem
Absoluta esperança de dormir como justo.

Reconforto-me na tentativa.

Amanhã, deu lo queira,
O sol recompensará os audazes.
Saborearemos um, sempre diferente,
Brilho igual.

Boa noite, cidade.

e. u. m., Poemas Impublicáveis