11.25.2009

valer a pena

E nunca perguntamos se valer a pena
é o castigo consumado
ou a vitória triste da melancolia

Só a aceitamos
como dádiva perfumada aos outros
em gestos carimbados de consolação

Queremos, depois, a recompensa,
sólida oferenda de parcos restos,
afago de dissabores descobertos

À maneira de Deus
inventamo-nos magnânimes
mas só o tempo nos cura
do desconforto do crédito.

sábado à espera

o dia inventa solidões claras:
é a luz de sábado e as crianças
baloiçam nos jardins de cimento

enquanto desperto de um poema
esquecido na noite
que ontem escureceu de cansaço
entre uma cerveja por beber
e os beijos predestinados
congelados até ao Novembro do regresso
dessa Paris inventada só para os amantes,
os que não suplicam a espera
como eu
nesta cidade morta de Mondego

virás com a virgindade que me dedicas
- indiferentemente mentirosa -
como as nuvens que se dissipam
rindo
simulando
o dia das solidões claras.