Curvo-me ao mar, não por respeito apenas,
pelas histórias q’enrolam as ondas serenas:
marinheiros trespassados por cúpidos de sereias
castelos fantásticos engolidos por limos nas ameias.
Se a onda se encrespa, agreste e revolta,
enchem-se de sangue e gritos as fantasias:
tremendos piratas e uma princesa morta
num turvo fundo que m’engole as alegrias.
O verde e o azul juntam-se num tabuado
onde fantasmas desdentados cantam assobios
traçando no ondulado riscos de sapateado
até suarem, só pel’ manhã, seus desafios.
As gaivotas alertam-me no enquanto
reparo nas cruzetas daquele desenho
como se de Arraiolos fosse um manto
o oblíquo voo onde me detenho.
Passo assim tardes infindas, sentindo
o verde, a elas, o azul e a história
coisas que na escola vou mentindo
até que partam, fugindo da memória.