Dizes que estou, logo hoje, de melhor cara
E eu sei que nem és budista para acreditar
Nessa mudança que a cada dia nos separa
Da lembrança de em cada dia ainda mudar
A cara é d’ ontem e antes, certamente
E será a minha daqui ao fim dos dias
Salvo se lhe descobriste, num repente
Apagada imagem de antigas alegrias
Ou então, sei lá, dormi anos a fio
E a idade confunde-me a memória
E nem consigo vencer este desafio
D’emparelhar a cara com a história
Como quer que seja, uso a que cá tenho
Que será a que vês, mesmo sem eu a ter
E seja ou não seja, com ela eu me amanho
Porque só me serve a que tu quiseres ver.