Escassas as palavras que se confundam
contigo e renovem esperanças perdidas
de quando aceitávamos todo o mundo
como luz a incandescer as tristes vidas.
Tínhamos aí quinze anos e liberdade
era Agosto, o sol queimava os corpos
nenhum saberia dizer, nem a saudade
nem a oração libertadora dos devotos.
Só nos entregávamos à inconfidência
dos beijos ressuscitados além da duna
depois de castelos d’areia em paciência
de conseguirmos o cimento que nos una.
Deixámos no mar a promessa inteira
de nunca esquecermos essa ousadia
que era a cresta agreste da soleira
nos lábios humedecidos em fantasia.
Entrelaçámos mãos em compromisso
eterno como o fulgor dos tais abraços
numa fé ainda maior que a do noviço
que a Deus entrega ambos os braços.
No Verão seguinte não te vi na onda,
senti que o desespero tinha chegado,
rogando que a mágoa, bem profunda
tivesse o mesmo desgosto do teu lado.
Mas não, não sei sequer se foi assim
porque aprendi o timbre da saudade,
fiquei sozinho, mais chegado a mim
mesmo que creditado em liberdade.