8.27.2009

Vidas....

I
e a verdade caiu alí por inteiro. inopinada.
desesperada. como um bátega.
distrairam-se dos relógios
a confundir o sono da tarde
e voltaram a olhar os relógios.
cada qual.
no passeio contrário apressou-me
um homem que levava uma encomenta
a embriagarem-lhe as pernas
as que subiam escadas
há oitenta anos.
olhou-os sem admiração
e a encomenda
vacilou dois percalços
entre a montra de langerie
e o sapateiro gordo
sonolento
a divagar contra umas gáspeas.
uma criança assobiou
um trinado pimba.
e os homens acabaram por dispersar
sem um aceno de adeus.

II
na ocasião
cada qual podia dizer o que entendesse
e aos mais castos
era permitido ficarem absortos
sem contribuírem para os desacertos
com que cada outro
dialogava o vento inesperado
o sol dos costumes
e a maria do fundo de vila.
que apostavam grávida.
que garantiam acertar não saber de quem.

III
era o tempo antigo.
a desculpa que os permitia
os arreigados hábitos
o desdém de alterar.
gastavam os caminhos
na teimosia da insistência.
e até as palavras de aceno
eram o silêncio do falso toque
que sugestionava
um soluço do chapéu.