8.27.2009

a revolta das coisas

sou um relógio.
daqueles de cuco preto
e um rancho bávaro
a guinchar as horas.
há um menino
de calções repuxados pelos guindastes dos suspensórios
que se esconde da mãe
e me volteia o pêndulo
até à exaustão dos bávaros.
o cuco já não pode com ele
e
qualquer dia
- está combinado -
vamos estatelar-nos naquele cabelo loiro de tigela.
a mãe dirá que é acidente
o garoto vai amargar três pensos
e redondos de mercúrio.
o deus dos relógios, o dos cucos, o dos ranchos,
tal como o deles,
perdoarão esta legítima defesa.