6.08.2008

mãe mar

Quando fores velhinha e de cabelo branco
Continuarás a sentar-te feliz junto do mar
No banco onde sempre t’espreito de espanto
E ver-te é um exercício inteiro de sonhar.

Os dedos já falharão os traços de artista
Com que me pintaste o tempo toda a vida
Ao areal e ao verde não chegará a mesma vista
Porque foi comprida a tua missão cumprida.

Temo a saudade de olhar o banco, apenas
E ver-te igual, mas sem te ouvir a voz
Ainda que no olhar m’escrevas poemas
A dizer que os dois nunca ficaremos sós.

Cem anos que eu vivesse te sentiria
Em cada instante que fecho os olhos.
É impossível não respirar a maresia
Que contigo se mistura nos meus sonhos.