1.06.2010

à tua espera

disseste que passavas mais logo. a recolher
o olhar que não consegui devolver-te. e
assim foste cega, e eu a ver-te apenas
os lábios e as mãos
por onde começaste a enfeitar-me o peito. a
tua língua não é português,
mas húmida carne
que agora
me fere a intimidade com paciência.
até que descubro, só tu vês um gesto
que tinha guardado - por perdido-
desde os anos do arco-íris. abraço-te
já a saber que o escuro é luminoso
e me vou perder
no corpo inteiro onde castigo o choro. deixo
perdido um dedo caído
que piamente te plastifica o seio
e nada mais roubo ao reverso da palavra,
já só és tu o som do mundo. mudo
num terno solfejo de pele.