6.13.2009

retorno, eterno retorno

Deixávamos na areia os calcanhares corrompidos
do alcatrão da cidade
e as ondas vinham em formação
esfregar o amarelo com bolhas de espuma
até se diluir por completo
o desperdício com que
oleávamos as canseiras dos dias.

Olhavas-me no repouso das horas
respirando plenitude a compasso
sem uma palavra
sem um gesto a mais.

Ao fim da tarde deixavas
os lábios nos meus,
as gaivotas grasnavam inveja
e eu dizia ao mar que voltaria.

Séculos depois, regresso
condenado à lembrança
que confunde as cores
que imagina os sons
que se perde
no horizonte do retorno.

O azul cheira-me a verde-cinzento,
a manhã teima em não se levantar
e, de encontro ao vento,
encontro um búzio
a chilrear amores.

Corro dele,
sei que guardou a nossa história
e o vento não consente
essa memória.